28.2.13

Brinquedo Novo

É o Spotify, tem muito por onde escolher e, supostamente, os direitos de autor são pagos às editoras e aos artistas. Pode descarregar a aplicação e começar a procurar a música que quer ouvir ou o disco novo que quer conhecer. É muito fácil e rápido e, embora não dê milhões, espero que Artur Pizarro venha a receber uns trocos por conta deste disco que já tem uns quinze anos de vida.




27.2.13

Era uma vez


Era uma vez um curioso exemplar de Cupressus lusitanica, o tal cedro-do-Buçaço que é um cipreste, que morava à beira de um caminho junto ao relvado de Monserrate. Os ventos deste Inverno levaram-no.



























Há umas quantas primaveras entretive-me a brincar com fotografias de lá e com Vathek, o poema sinfónico que Luís de Freitas Branco concluiu em 1914, baseado na novela homónima de William Beckford (que viveu em Monserrate antes de Monserrate ser como é), e que é, segundo Alexandre Delgado, uma das obras mais vanguardistas do seu tempo.
O califa Vathek é outro personagem fáustico que não hesita em cometer as maiores crueldades para ir além dos limites que o Criador impôs ao conhecimento humano, tendo mandado construir cinco palácios colossais dedicados à total satisfação de cada um dos cinco sentidos. São esses palácios que descreve cada uma das variações deste poema sinfónico sobre um tema musical árabe.

 "Tema e Prólogo - Variação I"
 Orquestra Filarmónica de Budapeste, András Kórodi




He surpassed in magnificence all his predecessors. The palace of Alkoremmi, which his father Motassem had erected on the hill of Pied Horses, and which commanded the whole city of Samarah, was in his idea far too scanty; he added therefore five wings, or rather other palaces, which he destined for the particular gratification of each of his senses.
In the first of these were tables continually covered with the most exquisite dainties, which were supplied both by night and by day, according to their constant consumption, whilst the most delicious wines and the choicest cordials flowed forth from a hundred fountains that were never exhausted. This palace was called “The Eternal or Unsatiating Banquet.”
The second was styled “The Temple of Melody, or the Nectar of the Soul.” It was inhabited by the most skilful musicians and admired poets of the time, who not only displayed their talents within, but, dispersing in bands without, caused every surrounding scene to reverberate their songs, which were continually varied in the most delightful succession.

William Beckford, Vathek

25.2.13

Wagner's Dream

Para quem se interessa por estas coisas das produções de ópera.
É um documentário sobre O Anel do Nibelungo que Robert Lepage idealizou para o Met. Não podemos saber se a célebre máquina era exactamente o sonho de Wagner, que já cá não está para opinar, mas eles garantem-nos que sim.


24.2.13

Wolfgang Sawallisch (1923-2013)

(via Bayerische Staatsoper)
Faleceu um dos grandes maestros do século XX. O Anel que dirigiu em 1989 em Munique, cidade onde nasceu e de cuja Ópera foi director musical, está no Youtube, para quem quiser recordá-lo. Aqui fica a primeira parte d'A Valquíria, que tinha este elenco:
Siegmund: Robert Schunk
Sieglinde: Julia Varady
Wotan: Robert Hale
Brünnhilde: Hildegard Behrens
Hunding: Kurt Moll
Fricka: Marjana Lipovsek
Gerhilde: Andrea Trauboth
Ortlinde: Marianne Seibel
Waltraute: Cornelia Wulkopf
Schwertleite: Anne Pellekoorne
Helmwige: Nancy Gustafson
Siegrune: Christel Borchers
Grimgerde: Birgit Calm
Rossweisse: Gudrun Wewezow

23.2.13

Jonas Parsifal

(© Bosc d'Anjou)

No próximo Sábado, 2 de Março, há "Parsifal" na Avenida de Berna. A produção é de François Girard (estreou há perto de um ano em Lyon), o maestro é Daniele Gatti e o elenco é como segue:
Katarina Dalayman
Jonas Kaufmann
Peter Mattei
Evgeny Nikitin
René Pape
Já temos uma ideia de como vai ser a Narração de Gurnemanz no I acto,


e de como Jonas vai cantar Amfortas! Die Wunde!, na longa cena com Kundry.


Aqui, um excerto maior (áudio):


22.2.13

When I was 35


When I was seventeen
It was a very good year
It was a very good year for small town girls
And soft summer nights
We'd hide from the lights
On the village green
When I was seventeen


When I was twenty-one
It was a very good year
It was a very good year for city girls
Who lived up the stair
With all that perfumed hair
And it came undone
When I was twenty-one


When I was thirty-five
It was a very good year
It was a very good year for blue-blooded girls
Of independent means
We'd ride in limousines
Their chauffeurs would drive
When I was thirty-five


But now the days are short
I'm in the autumn of the year
And now I think of my life as vintage wine
From fine old kegs
From the brim to the dregs
It poured sweet and clear
It was a very good year

10.2.13

Artur Pizarro nos 20 anos da OSP



Parece que, nos próximos tempos, vamos ter Pizarro mais vezes por cá, segundo o próprio confidenciou à conversa com Pedro Wallenstein (Músicos da OSP). A sua próxima visita será já em Março, no CCB, com Pavel Gomziakov.
Ontem pudemos ouvê-lo no Teatro de São Carlos a tocar o Concerto nº 2 de Brahms, dirigido por Rui Pinheiro, que substituiu Martin André por motivo de doença. Não é surpresa que os concertos de Artur Pizarro transmitam grandes emoções. Para lá da técnica e do virtuosismo, Artur tem o condão de passar para o público sentimentos profundos em relação à obra que está a interpretar, só possíveis graças a uma enorme maturidade e, diria eu, a um modo de encarar a arte herdado dos grandes pianistas. Artur é um pianista moderno, que coloca a sua i-partitura sobre o piano, mas que pouco ou nada tem a ver com a esmagadora maioria dos pianistas que vão aparecendo e pululando por aí. Artur é um pianista moderno mas à antiga, se é que me faço entender.

Hardmusica)


A sua interpretação do concerto de Brahms foi belíssima, no entanto o 3º andamento, Andante, merece um realce especial. Começa com um solo de violoncelo, magnífico no arco de Irene Lima, subtilmente acompanhado pela orquestra, ao qual se junta mais tarde o piano em diálogo perfeito. Artur e Irene proporcionaram-nos as emoções que só os grandes artistas podem dar. Foi o momento mais sublime da noite e, com ele, concretizou-se um dos meus sonhos secretos: Irene Lima e Artur Pizarro juntos. E Pizarro, como se soubesse que era esse o meu desejo, convidou Irene para tocarem um encore: foi o Largo da Sonata de Chopin. O entendimento entre ambos foi tão evidente que nem se percebe por que razão não tocam mais vezes um com o outro.



Na primeira parte do concerto de ontem ouvimos Abertura Festiva, uma obra de Luís Tinoco em estreia absoluta, encomendada para a comemoração dos 20 anos da OSP, e a Sinfonia nº 5 de Joly Braga Santos. Poderá ser uma mania minha, mas continua a parecer-me uma ideia disparatada dispor a orquestra no meio da sala. Não só fica mais de metade da plateia por vender como a acústica da sala não foi pensada para isso. Numa obra para grande orquestra como a sinfonia de Braga Santos, em que os metais e a percussão têm um peso quase predominante, o som torna-se ensurdecedor. Imagine-se a ouvir a dita sinfonia na sua salinha com o volume da aparelhagem no máximo e perceberá a ideia. Tirando isso, parabéns aos músicos da Orquestra Sinfónica Portuguesa.

8.2.13

A OSP Na Outra Margem


Ainda a propósito dos 20 anos da Orquestra Sinfónica Portuguesa, Irene Lima e Pedro Wallenstein conversaram com Manuela Paraíso (Na Outra Margem) e reflectiram sobre várias questões relacionadas com a OSP, o Teatro de São Carlos e o programa comemorativo que vai tendo lugar ao longo do mês de Fevereiro.

(Músicos da OSP no Facebook)

A ouvir:

3.2.13

Elisabete Matos nos 20 anos da OSP

Johannes Stert com a OSP
A Orquestra Sinfónica Portuguesa está de parabéns. Ontem mostrou mais uma vez que tem amadurecido muito bem ao longo dos vinte anos de existência e que se encontra em grande forma. A Orquestra e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, quando têm a casa cheia e estão a fazer aquilo de que gostam mesmo e que é a sua razão de ser - Ópera e concertos de qualidade -, puxam pelos galões e mostram o que valem. Principalmente quando têm de acompanhar solistas de grande nível e com quem têm desenvolvido uma relação privilegiada. Nos últimos anos, noites verdadeira- mente gloriosas em São Carlos foram as das récitas de "Tosca" e de "Don Carlo" e as dos concertos que contaram com a presença de Elisabete Matos. É por isso natural que se sinta no Teatro o entusiasmo contagiante quando se sabe que Elisabete Matos vem cá. E é também natural que a Orquestra tenha convidado Elisabete Matos para o primeiro concerto comemorativo dos seus vinte anos.

Elisabete Matos com o Coro do TNSC (fotos © Hardmusica)


Cabe agora mencionar alguns dos momentos que mais me emocionaram no concerto de ontem, que teve a direcção musical de Johannes Stert, e que foram Ernani, Ernani involami (ária e cabaleta de Elvira), Patria oppressa (coro dos escoceses refugiados, de "Macbeth"), Ecco l'orrido campo... Ma dall'arido stelo divulsa (cena e ária de Amelia, de "Un Ballo in Maschera") e todo o final dedicado a Wagner: Schläfst du, Gast e Du bist der Lenz (Sieglinde) e, de "Tannhäuser", Dich, teure Halle e Freudig begrüssen (coro dos convidados).

Da orquestra apetece-me destacar a qualidade da percussão e dos metais, que noutros tempos foram o seu elo mais fraco. Estiveram excelentes no prelúdio do III acto de "Lohengrin".
Foram também impressionantes os gritos do coro, Peter Grimes, Peter Grimes, no final de Who holds himself apart, um reportório ao qual não está habituado - e que poderá fazer pouco sentido num concerto em que a solista canta Verdi e Wagner -, mas que provou estar apto a assumir.

Em resumo, um concerto de alto nível, com a sala esgotada, que só não estava mais cheia porque foi construído um palco para a orquestra que ocupa quase metade da plateia. O caríssimo Senhor Martin André já terá percebido que muitos dos concertos que programa não vendem, porém se os convidados são Elisabete Matos ou Artur Pizarro (já no próximo Sábado), a casa enche e todos os lugares são poucos? Com que justificação se pode impedir o Teatro de vender cerca de 250 lugares por concerto? Qual é a lógica de colocar os cantores no meio da sala, com graves prejuízos para eles e para o público em termos acústicos, como aconteceu na interpretação de Os Sinos de Rachmaninov no dia 26 de Janeiro? Elisabete Matos optou por cantar junto do coro, atrás da orquestra, no sítio onde se supõe que os cantores cantem, que é o palco do Teatro. E esteve magnífica. Só não é justo ter de competir com o volume sonoro de uma orquestra que inunda um teatro inteiro. Ainda assim, como a sua voz tem o tamanho que se sabe, impôs-se e foi um gosto e um privilégio ouvi-la. Tão depressa não a teremos por cá.

No final do ensaio geral, Elisabete Matos deu uma curta entrevista a Jorge Rodrigues para a página dos Músicos da OSP no Facebook. Ei-la: