30.4.11

D'amor sull'ali rosee

Sondra Radvanovsky
Mais logo o Met vem novamente à Avenida de Berna. Canta-se "Il Trovatore".
D'amor sull'ali rosee
Vanne, sospir dolente:
Del prigioniero misero
Conforta l'egra mente...
Com'aura di speranza
Aleggia in quella stanza:
Lo desta alle memorie,
Ai sogni dell'amor!
Ma deh! non dirgli, improvvido,
Le pene del mio cor!
A estreia de Leontyne Price no Met, em 1961:


Caballé em Orange, 1972:


28.4.11

Música e Biodiversidade

Está a decorrer o Terras Sem Sombra, festival de música sacra do Baixo Alentejo, com direcção artística de Paolo Pinamonti. María Bayo e Pierre Hantaï já por lá passaram, mas ainda sobram quatro concertos (programação), sendo o próximo em Castro Verde, no dia 30 de Abril.

O festival pretende chamar a atenção para a protecção do património natural alentejano (biodiversidade), contando para isso com a colaboração dos artistas e de entidades como, entre outras, o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, a Liga para a Protecção da Natureza e a Quercus.

27.4.11

Foyer Aberto

Oportunidade para ir mais logo ao Foyer Aberto, às 6 da tarde, ouvir música francesa. A entrada é gratuita e o programa é este:

CLAUDE DEBUSSY (1862 – 1918)
Sonata para violoncelo e piano, em Ré menor
ERNEST CHAUSSON (1855 – 1899)
Concerto para violino, piano e quarteto de cordas, em Ré Maior, op.21

Violino Otto Pereira
Piano João Paulo Santos
QUARTETO VIANNA DA MOTTA
Violino António Figueiredo
Violino Witold Dziuba
Viola Céciliu Isfan
Violoncelo Irene Lima

Ouçamos Irene Lima com João Paulo Santos, aqui num excerto da Sonata para Violoncelo e Piano (1913) de Luís de Freitas Branco. É o II andamento.



26.4.11

Árvore com flores amarelas

A Rosa foi revisitar uma árvore nossa amiga que está agora em flor ali para os lados da Torre de Belém. Não perca.
Hymenosporum flavum

25.4.11

Die Walküre at the Met - II

Dando o devido desconto à qualidade do som, o Siegmund de Jonas Kaufmann na estreia soou assim:


Quem estiver interessado pode ler a crítica de Anthony Tommasini (The New York Times), que diz, entre outras coisas, isto:
But a problematic staging touch came at the opening of Act II. Here the planks jutted out to evoke the “wild rocky place” that Wagner calls for. Wotan, the bass-baritone Bryn Terfel, came bounding onto the beams, now horizontal, which were alive with images of rocky terrain. Then his rambunctious daughter Brünnhilde, the soprano Deborah Voigt, appeared. As Ms. Voigt started to climb the planks that evoke the hillside, she lost her footing and slid to the floor.
(...)
The problem here was not just that in this crucial dramatic moment, with Ms. Voigt about to sing the first line of her first Brünnhilde, Mr. Lepage saddled her with a precarious stage maneuver. The problem was that for the rest of the scene, whenever Wotan or Brünnhilde walked atop the set, the beams wobbled and creaked. At times Mr. Terfel, a big, strong man, had to extend his arms to balance himself. No imagery is worth having to endure the sounds of creaking gears and looks of nervousness on the faces of singers.
Pergunto: O Senhor Lepage concebeu a máquina (the machine - assim é conhecida a estrutura cénica de quarenta e cinco toneladas e não sei quantos milhões de dólares) para cantores líricos ou para equilibristas do Cirque du Soleil?
Pode ouvir aqui a entrada de Brünnhilde (Deborah Voigt com Bryn Terfel).

"Die Walküre" at the Met
Esta foto foi enviada por um simpático leitor que a fez acompanhar do seguinte texto:
Caro Valkirio,
Ofereço esta foto para o que puder servir... grato pelo prazer de ler o seu blog.
Bosc d'Anjou
Caro Bosc d'Anjou, grato fico eu. Pela foto, que acabou de ter serventia, e por o ter a si como leitor.

ADENDA: O Joaquim já escreveu sobre a estreia dest'A Valquíria e colocou a gravação à nossa disposição. É ir lá.

22.4.11

Die Walküre at the Met - I

Deborah Voigt
O Met já nos mostrou um pouco do que vai ser A Valquíria de Robert Lepage, a estrear logo à noite e com transmissão em directo no live stream. Quem for à Gulbenkian no dia 21 de Maio poderá assistir em diferido a uma das récitas.




10.4.11

Parabéns, Juan Diego!

Juan Diego Flórez e Diana Damrau (© Marty Sohl/Metropolitan Opera)
Renée Fleming, apresentando a récita que estava prestes a começar, deu a notícia: havia trinta e cinco minutos que Juan Diego Flórez era pai. Mal tivera tempo para ver o bebé e logo correra para o Met para, diria eu, em estado de graça, dedicar "Le Comte Ory" ao Leandro. Uma récita memorável, até para quem não coloca Rossini na lista de compositores favoritos.


Com um leque de cantores de primeiríssima água e uma encenação bem-disposta  (de Bartlett Sher) e sem a pretensão de descobrir uma qualquer nova leitura psico-social que ninguém ainda tivesse vislumbrado (o que lá está é muito claro e serve para divertir), a tarde cumpriu a promessa. Acredito que Rossini tenha dado grandes gargalhadas lá no céu dos compositores. Todos os cantores representaram os seus papéis com um verdadeiro sentido de comédia, gestos e olhares maliciosos como o libreto e a música pedem e, do ponto de vista vocal, tecnicamente infalíveis. Notáveis, além de Flórez (quem se lembra do seu concerto no Teatro de São Carlos?), Joyce DiDonato (pajem do conde Ory) e Diana Damrau (condessa Adèle), se bem que os papéis secundários tenham sido igualmente muito bem entregues.
Um dos momentos altos (se não o momento alto) foi o ménage à trois, quase a fechar a ópera. O conde Ory, que entrou no castelo da condessa Adèle disfarçado de peregrina, introduz-se no seu quarto decidido a seduzi-la, acabando na cama com ela e o seu próprio pajem. Um delírio em que os três se entusiasmam livremente uns com os outros e que ontem conseguiu ser muito mais divertido que este pequeno excerto de uma récita anterior.


Pode ler a sinopse da ópera consultando o programa de sala.

8.4.11

Um Americano de Berlim em Lisboa

Andrew Richards como Parsifal (© Martin Sigmund - Staatsoper Stuttgart)

Para quem ainda não reparou: o Don José da próxima "Carmen" do Teatro de São Carlos, lá para Junho, será Andrew Richards, o Parsifal de Bieito em Estugarda.


Andrew Richards bloga no Opera Rocks.

6.4.11

NOTAS DE LONDRES - II (por Jorge Rodrigues)

A Virgem dos Rochedos, detalhe (The National Gallery)

NOTAS DE LONDRES (SEGUNDA, E MAIS IRADA)

Uma ida a Londres, por melhor teatro que se vá ver, não se cinge nunca à representação escolhida.
Eu explico: costumo ficar sempre num hotel muito perto de Trafalgar Square, e uma das coisas que adoro - mas adoro!!! - em Londres é a possibilidade de poder admirar sempre que me der na real gana obras-primas absolutas da pintura. Assim, por exemplo, no sábado passado tinha marcado um encontro com um amigo às dez e meia da manhã, mas acordei mais cedo. Tendo acabado de tomar o pequeno-almoço, e constatando que tinha ainda quarenta e cinco minutos livres, zarpei para a National Gallery, ali em Trafalgar. E – e é aqui que eu quero chegar – na National Gallery entra, quando e se lhe apetecer, desde que respeite os horários de abertura e fecho, qualquer cidadão, de qualquer nacionalidade, completamente de graça. Se não levarmos mochilas e sacos, entra-se por ali dentro como pelos armazéns do Chiado. É igual, não há burocracia de espécie alguma! E tens, assim, oportunidade de ver Rembrandt, Van Dyck, Piero della Francesca, Renoir, Van Gogh, todos eles. Quando te apetecer, os que te apetecerem.
E eu assim faço em Londres – desde que tenha pelo menos vinte minutos livres, e estando ali ao pé, sabendo onde estão os quadros (a planta arranja-se em qualquer guia de viagem, na net, etc.), é só escolher: ou vais ver o Velasquez, ou se estiveres numa mais relaxado o Rubens, numa mais mística o Fra Angelico maravilhoso que lá está. É para onde estiveres virado. Ou então para ver apenas A Virgem dos Rochedos de da Vinci - estando em Trafalgar demoras cinco minutos a chegar ao quadro. Depois… estás a vê-lo pelo menos dez. Restauraram-no, e o azul do vestido da Virgem está de gritos!
É isto que deve ser um Museu – um local onde qualquer cidadão possa mergulhar, sempre que lhe apetecer, e sempre gratuitamente, nas mais sublimes obras plásticas que a Humanidade nos tem deixado.
E não é preciso ter o acervo da National Gallery – que bom seria poder irromper assim, sem bilhetes, sem identificações, sem estar à espera na caixa, etc., etc., pelo Museu Nacional de Arte Antiga para ver um Dürer um dia, uns painéis de São Vicente noutro, o que raio me apetecesse num terceiro.

Jorge Rodrigues

5.4.11

NOTAS DE LONDRES - I (por Jorge Rodrigues)

Sir Derek Jacobi (©)

NOTAS DE LONDRES

Não chego ao extremo do Professor Rosado Fernandes, que afirma não ver teatro em Portugal, mas o facto é que nos últimos tempos não tenho ido muito ao teatro no nosso país, por questões de tempo, de datas, sei cá eu (mas o que eu gostei d’A Cacatua Verde no Nacional!). Tive, porém, a oportunidade de visitar Londres em viagens absolutamente centradas em representações teatrais. Uma foi há cerca de um ano, quando fui ver Judi Dench fazer a Titania num Midsummer Night’s Dream encenado por Peter Hall. Bem, só te posso dizer que foi um sonho. Nunca me hei-de esquecer, por mais que viva, o modo com que Judi Dench lançou, ouvindo os zurros de Bottom, a frase: What angel wakes me from my flowery bed?
Agora regressei a Londres apenas para ver o King Lear de Derek Jacobi, um dos actores de que mais gosto no tempo presente. Fui na sexta, dia 1, vi no sábado, dia 2, e regressei no domingo, dia 3. Não vale a pena dizer-te como o homem fez o papel: a entrada antológica na grande cena da tempestade; a impaciência violenta e febril com que passa a escutar as filhas Regan e Goneril a partir do momento em que percebe a pouca vergonha das criaturas; o grande Monólogo final, com Cordelia nos braços; foi uma representação e tanto! A encenação não tinha qualquer espécie de cenário, a não ser a própria caixa de palco, digamos assim, cenografada. Era um espaço do palco totalmente vazio, onde evoluíam os personagens. Apenas no último acto era colocada uma cadeira, uma, em cena. Eficaz! Fantasticamente eficaz! Recordei a frase de Lawrence Olivier: para acontecer grande teatro bastam apenas um bom texto e um bom actor.
O que te quero contar porém é que depois do espectáculo fui falar com Derek Jacobi e lhe disse, de caras, que tinha chegado no dia anterior de Portugal, que partiria no seguinte, e que fizera a viagem só para o ver naquele papel. O homem ficou “louco” e começou a despejar recordações portuguesas: que tinha cá vindo apenas em passeio, há largos anos; que se tinha sentido muito só; que tinha conseguido visitar por dentro o Teatro Nacional; e depois, aos pulos de felicidade, que foi a casa da Amália Rodrigüez e que ela cantou só para ele. Assim, de repente, ficou aos pulos como uma criança, e apenas porque Amália lhe cantou um fado, aquele homem com setenta e dois anos que acabara de interpretar um dos mais tremendos papeis da história do teatro ocidental.
O facto deixou-me tão feliz. Nem imaginas. A nossa Amália!!!

Jorge Rodrigues

2.4.11