8.8.08

Paride ed Elena

Ceci n'est pas la Grèce.

Para que não haja confusões, já que a costa turca fica logo ali ao lado; e porque desde que Páris amou a bela Helena de Esparta que gregos e troianos não se podem ver.

Anne Sofie von Otter: Oh del mio dolce ardor, de "Paride ed Elena", de Gluck
(margotlorena)
Oh, del mio dolce ardor bramato oggetto,
L'aura che tu respiri, alfin respiro.
Ovunque il guardo io giro,
Le tue vaghe sembianze
Amore in me dipinge:
Il mio pensier si finge
Le più liete speranze;
E nel desio che così m'empie il petto
Cerco te, chiamo te, spero e sospiro.

Les Amours de Pâris et d'Hélène, 1788,
por Jacques-Louis David, no Museu do Louvre (ver detalhe)

Helena estava mesmo a pensar que os seus dias eram todos iguais quando o barco aportou. Páris subiu pelas ruas estreitas até ao palácio. Sabia que no interior daqueles muros vivia a mais bela de todas as mulheres. Afrodite tinha-lho prometido e as deusas não mentem.
Páris não era um homem que se deitasse fora. As sandálias de simples tirinhas de couro mostravam um par de pés bem desenhados, alvos como marfim, sobre os quais pousavam duas pernas delicadamente esculpidas. Os seus braços seguravam a lira com a mesma firmeza com que pegava no arco e os seus dedos eram tão atenciosos para com as cordas que tangia como para com o fio que puxava quando disparava uma flecha certeira. E aqueles caracoizinhos loiros? Não, eram irresistíveis. Helena tinha de partir e mandar o aborrecido Menelaus ver se chovia. Não havia de vir mal ao Mundo se mais um marido fosse abandonado e trocado por outro. Enfim, talvez uma guerrita que durasse uns dez anos, ou coisa assim.
Foi só o tempo de pôr umas túnicas na trouxa, mais umas fitas para o cabelo, e, quando a noite ia a meio e os homens dormiam embalados pelo retzina, partiram ambos, levados pela brisa do Egeu.