2.9.08

September - Gundula Janowitz


"Setembro", de "Quatro Últimas Canções" de Richard Strauss, na interpretação de Gundula Janowitz e Herbert von Karajan, com a Orquestra Filarmónica de Berlim.

September

Der Garten trauert,
Kühl sinkt in die Blumen der Regen.
Der Sommer schauert
still seinem Ende entgegen.

Golden tropft Blatt um Blatt
nieder vom hohen Akazienbaum.
Sommer lächelt erstaunt und matt
in den sterbenden Gartentraum.

Lange noch bei den Rosen
bleibt er stehen, sehnt sich nach Ruh.
Langsam tut er die (grossen)
müdgewordnen Augen zu.

Hermann Hesse


Setembro

O jardim está de luto,
A chuva fria penetra nas flores.
O Verão estremece calmamente
Aproximando-se do seu fim.

As folhas douradas caem uma a uma
Do alto da acácia.
O Verão sorri, surpreendido e cansado,
No sonho moribundo do jardim.

Detém-se ainda longamente junto às rosas,
Procurando o repouso.
Lentamente vai cerrando
Os seus (grandes) olhos fatigados.

(tradução de Rui Vieira Nery)


Deutsche Grammophon

11 comentários:

  1. Se Hesse vivesse num país mediterrânico não escrevia isto ;)

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  2. O que teria dado ao Hesse para vir falar de chuva com um tempo destes? Se calhar chovia-lhe dentro. Mas adiante. Pressinto que essa tua amiga não tardará a chegar.

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  3. Choveu-lhe dentro a vida toda.

    Não sei se acredito nos teus pressentimentos, mas dava-me jeito. E por lhe chamares minha amiga ainda me ri com a publicidade que o google anexou à mensagem.

    Só tinha uma a destoar: 'Aceitas o desafio? Viver 7 dias sem o computador' - acho que deve ser um aviso dos deuses rsrs

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  4. Maravilhoso!
    Mas rosas...quais rosas em Setembro?
    Já o "lentamente vai cerrando os seus grandes olhos fatigados" é lindissímo.

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  5. Miguel,
    nos jardins cuidados da Europa central, com verões mais curtos que os nossos, talvez haja espécies ou variedades que vivam esplendorosas até Setembro.
    Não vamos nós agora contrariar o poeta.

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  6. Vim ouvir o teu Wagner e deixei ficar até ao Setembro enquanto vagueava por aí. À segunda audição a música soou lindíssima, fiquei arrepiada (não estou a brincar!)

    Embora não consiga ouvir nela um verão moribundo. (não percebo alemão talvez por isso o poema, que já li a semana passada, não influencie!)

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  7. Jardineira,
    A música é luminosa mas transparece a melancolia anunciada pelo fim do Verão. Há um sentimento de tristeza, sereno e contido, nas palavras cantadas por Gundula Janowitz. Ora ouve lá outra vez.

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  8. Bem, foi da forma como ouvi :)

    O poema de Hesse tem um tom pesado, de fim, de morte, como se não houvesse volta. Hesse passou a vida entre depressões e isso sente-se numa boa parte dos seus livros, as personagens são angustiadas, cheias de dúvidas existenciais, e com tendências suicidas. Muitas vezes as palavras dele, por muito belas que possam ser (e ele é um dos meus autores preferidos) transportam-nos, de forma mais ou menos subtil para esse sentimento de fim, duro e definitivo, e de desesperança.

    A música tem uma certa melancolia, sim, mas é uma forma de saudade antecipada de algo que vai, de que se vai sentir a falta, mas que volta, e por isso não tem o mesmo peso do poema. É como a saudade dos amantes que se separam, mas cuja ausência serve apenas para aumentar a alegria do reencontro. É uma melancolia benigna.

    Se calhar estou a divagar :)

    Mas a primeira vez ficou mesmo a impressão pesada do poema sem a música. E agora a música suaviza essa impressão.

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  9. Jardineira,
    parece-me que com a expressão "melancolia benigna" ficou tudo muito claro. Não tarda aí o Outono e o Verão, cansado, fechará os olhos para repousar. Nada aqui é definitivo. Sabemos nós, e Hesse e Strauss também sabiam, que para o ano há mais.

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  10. Anónimo14.9.08

    para variar, um comentário "sério": esta é, para mim que sou leigo em música erudita, uma das mais belas canções e interpretações que jamais ouvi em qualquer género musical. Está lá, no patamar superior que me avassala.

    josé

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  11. Deves lembrar-te, José, de conversas sobre compositores, composições e interpretações. E tu, que lá bem no fundo és uma pessoa sensível, não podias ficar indiferente a uma das obras mais sublimes da música do séc. XX. (Mantendo o ar seriíssimo.)

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