7.2.15

Tristan und Isolde au Capitole de Toulouse


Elisabete Matos e Robert Dean Smith, após o I acto

In the prime of voice she is able to soar to and beyond the enormous climaxes never compromising her richly colored sound. Her familiarity with the great Verdi dramatic soprano roles lies under her Isolde, the liebestod far more intimate and personal than heroic. The vast emotional vistas and philosophic scope of this production were perfectly realized in her performance.
Michael Milenski, in Opera Today

É isto, mas é muito mais. Elisabete Matos já tinha sido uma grande Isolda em Oviedo e agora nota-se como amadureceu bem a personagem, dominando-a, entregando-se cenicamente sem limites, com um controlo total em todas as situações. Na memória ficam, entre tantos outros momentos, a Narração no I acto, com toda a sua potência dramática em Mir lacht das Abenteuer, o lirismo no II acto durante o dueto com Tristão (Robert Dean Smith e Elisabete Matos, em harmonia perfeita, deram-nos um II acto de ir às lágrimas; cénica e vocalmente).

Isolda e Brangäne (I acto) (© Patrice Nin)
(© Patrice Nin)
(© Patrice Nin)
A noite de amor, interrompida pela chegada do Rei Marke (© Patrice Nin)

Tristão e Isolda é definitivamente uma ópera para heróis. Só enormes cantores-heróis conseguem chegar ao final do III acto e sobreviver, morrendo, com voz e fôlego para as últimas notas, como o fazem estes dois. Robert Dean Smith extraordinário no seu delírio e Elisabete Matos pungente no Liebestod.

Tristão e Kurwenal (III acto) (© Patrice Nin)
Liebestod (© Patrice Nin)

Grandes também Daniela Sindram (Brangäne) e Hans-Peter König (um Rei Marke de luxo). Um elenco soberbo, portanto, onde apenas o Kurwenal de Stefan Heidemann me pareceu destoar, já que também os papéis mais pequenos estavam muito bem entregues.

A encenação de Nicolas Joel é muito bonita, um exemplo de como se pode fazer moderno, dentro de um conceito minimalista, sem ir contra a música e o libreto e focando-se no trabalho dos cantores. No II acto, o palco apresenta-nos um céu estrelado belíssimo, sob o qual Tristão e Isolda se entregam à sua noite de amor. A simplicidade a vencer os desvarios que andam tão em voga por aí.

A Orchestre National du Capitole tem uma sonoridade perfeitamente wagneriana, cheia e opulenta, mas belíssima também nos momentos de recolhimento. Pena que o maestro Claus Peter Flor não tenha estado sempre à altura. Notaram-se desencontros pontuais entre o fosso e o palco; aqui e ali os tempos não pareciam os mais indicados — adversidades que, contudo, permitiram aos cantores demonstrar as suas enormes qualidades. Verdadeiros heróis, récitas memoráveis. De rêve.
Se me deixassem mandar...

Aguarda-se agora a Lady Macbeth de Elisabete Matos em Lisboa. Vem já a seguir.

(Imagens do FB do Théâtre du Capitole de Toulouse)

Ficha técnica:
Claus Peter Flor direction musicale
Nicolas Joel mise en scène
Andreas Reinhardt décors et costumes
Vinicio Cheli lumières

Robert Dean Smith Tristan
Hans-Peter Koenig Le Roi Marc
Elisabete Matos Isolde
Stefan Heidemann Kurwenal
Thomas Dolié Melot
Daniela Sindram Brangaene
Paul Kaufmann Un Jeune matelot / Un Berger
Jean-Luc Antoine Un Pilote

Choeur du Capitole
Alfonso Caiani direction

Orchestre national du Capitole

12.1.15

Concerto de Inverno

Por motivos vários que agora não vêm ao caso, este blogue tem andado adormecido. Acorda hoje para dar conta do concerto de ontem à tarde no CCB, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigida por Joana Carneiro.


O Grande Auditório encheu, apesar de as obras não serem as mais fáceis para o público em geral, com a excepção do Adagio para Cordas de Barber. Contudo, Joana Carneiro atrai um público muito variado às nossas salas de concerto e obtém êxitos retumbantes com a OSP. Assim foi ontem. Após o celebérrimo Adagio de Barber ouvimos a Sinfonia Doctor Atomic, de John Adams, baseada na sua ópera homónima. Joana Carneiro, sabe-se, é uma fervorosa admiradora deste compositor e ontem pôde demonstrá-lo mais uma vez. Impossível resistir à energia criada entre a maestrina e a orquestra. Parabéns também aos solistas da OSP.

Mas a grande obra da tarde era a Sinfonia Nº 5 de Chostakovitch. Estreada em 1937, era a peça mais antiga do programa, com rasgos de invenção melódica e rítmica contagiantes. Também aí Joana Carneiro e a OSP estiveram em grande. Trata-se de uma sinfonia à moda de Mahler ("um fresco mahleriano", como escreveu Alexandre Delgado no programa de sala), com forte presença de metais e percussões e um terceiro andamento, Largo, dominado pelas cordas.



Menos bem, para não dizer péssimo, o público do CCB. Em primeiro lugar, não se leva uma criança de colo para um concerto destes. Os espectadores não compram bilhetes para ouvir o Adagio de Barber acompanhado pelo palrar de um bebé. Em segundo lugar, é estranho que tanta gente sofra de sonoros ataques de tosse durante o Largo da 5ª Sinfonia, destruindo assim um dos momentos mais belos do concerto. Estariam todos atacados pelo vírus ou simplesmente aborrecidos?

25.7.14

Mais logo, na RTP 2

O concerto/homenagem a Elisabete Matos, que teve lugar no passado sábado no Festival ao Largo, vai ser transmitido hoje na RTP 2, às 23:06, após um documentário sobre a cantora.

No concerto da véspera, que quase chegou a não acontecer devido a uma chuvinha que, quando viu que ninguém arredava pé, decidiu desistir, foi assim:


20.7.14

Diecimila anni alla nostra Elisabete

Quem foi ao Largo pôde assistir a um concerto que foi uma homenagem a Elisabete Matos verdadeiramente extraordinária. Felizmente, Jorge Rodrigues avisou-nos logo no início que devíamos apertar os cintos de segurança. Após a abertura de La Forza del Destino, o voo começou com o Te Deum de Tosca por Sergei Leiferkus. Contou-nos Jorge Rodrigues que, quando ele foi convidado a participar no concerto, respondeu: "Elisabete Matos? Of course, I love her". Ouvir este grande senhor no Largo de São Carlos foi um privilégio enorme. E seguiu-se um longo excerto do II acto de Tosca. A Matos e Leiferkus juntaram-se Paulo Ferreira, Marco Alves dos Santos e Manuel Rebelo. Mais um privilégio: ouvir Paulo Ferreira finalmente em Lisboa; ele, que tem feito carreira essencialmente em teatros alemães e austríacos. Todo o drama de Tosca esteve ali: a perfídia de Scarpia, a dor do torturado Cavaradossi, o desespero de Floria Tosca, que nos deu um Vissi d'arte de ir às lágrimas.

(Do FB de Elisabete Matos)

Pequena pausa para acalmarmos os ânimos, com o intermezzo de Manon Lescaut, e passámos para Turandot, a última ópera de Puccini. Dora Rodrigues interpretou a célebre ária de Liù, Tu che di gel sei cinta, e Elisabete Matos voltou ao palco para cantar o que é um dos papéis mais extraordinários da História da Ópera e que parece ter sido escrito e composto a pensar nela e na sua voz. No concerto de sábado, Elisabete fez o que parecia impossível: superou-se a si própria, e à actuação da véspera, e a sua Turandot foi ainda mais... (agora escolham o adjectivo, porque eu já não tenho). Vejam na RTP 2, na próxima sexta-feira, 25 de Julho. Destacar momentos altos da sua Turandot é difícil, porque são todos. In questa reggia é de antologia, a cena dos enigmas também, frases como Percuotete quei vili! enchem-nos de pânico.
Mais uma vez, convém notar que Elisabete Matos esteve belissimamente acompanhada pelo Calaf de Paulo Ferreira, pela Liù de Dora Rodrigues, pelo Altum de Marco Alves dos Santos, pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, pelo Coro do Teatro Nacional de São Carlos, pelo Coro Juvenil de Lisboa e pelo maestro John Neschling. Bravi tutti! Com um elenco destes, muitas ópera poderiam ser feitas em São Carlos. Se me deixassem mandar...

Final do concerto de sexta-feira (foto de A. Nunes)

16.7.14

A Matos por cá

Ainda mal refeito das sensações do recital soberbo de Elisabete Matos, Sergei Leiferkus e Artur Pizarro no Palácio de Queluz, a encerrar o Festival de Sintra no passado dia 11. Foi uma noite de canções de Rachmaninov e Tchaikovsky cantadas e tocadas a preceito, um serão de canto e piano inesquecível para quem lá esteve. Espero que Elisabete e Artur se juntem novamente e com frequência; fazem uma dupla excelente e o entendimento entre a cantora e o pianista é notável. Bravi tutti!

Durante os ensaios, no Salão Nobre do Teatro de São Carlos (a foto possível)

E eis que se aproxima um dos grandes acontecimentos do Festival ao Largo deste ano. Nos dias 18 e 19 (sexta-feira e sábado), quem manda é Puccini. Trata-se de uma homenagem a Elisabete Matos, com o coro do TNSC e a Orquestra Sinfónica Portuguesa sob a direcção de John Neschling. Tosca e Turandot respondem à chamada e com Elisabete estarão Sergei Leiferkus, Dora Rodrigues, Paulo Ferreira, Marco Alves dos Santos e Manuel Rebelo. Naturalmente, a não perder.

Elisabete Matos (Tosca) e Sergei Leiferkus (Scarpia) em Santiago do Chile

5.7.14

Irene Linda

Ontem à noite Irene Lima tocou Don Quixote, de Richard Strauss, com a OSP no Festival ao Largo. Violoncelista de alto calibre, como é sabido, é pena não a vermos mais vezes como solista. Se não foi, não perca logo às 21h30. Ela repete.

E o valkirio hoje tem direito ao seu momento "Caras", porque Irene Lima estava linda, com o vestido que Pilar del Rio usou em Estocolmo na cerimónia de entrega do Nobel a Saramago. Foi também esse mesmo vestido que Irene usou, a pedido de Pilar del Rio, quando tocou Bach na cerimónia fúnebre de José Saramago que teve lugar na Câmara Municipal de Lisboa.

Em O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Maria Madalena diz "Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti", ao que Jesus responde "Quero estar onde a minha sombra estiver, se lá é que estiverem os teus olhos". São estas as palavras bordadas na base do vestido.

25.6.14

Ao Largo 2014



O palco já está a ser montado junto ao Teatro de São Carlos para o 6º Festival ao Largo, que este ano decorrerá de 27 de Junho a 27 de Julho.

Comemoram-se os setenta anos de profissionalização do Coro do TNSC e Fiorenza Cossotto, escolhida para madrinha, será homenageada por ele no dia 26, às 15h30.
  • Os primeiros concertos no palco ao Largo, a 27 e 28, contam com a presença do Coro do TNSC e da OSP, dirigidos por Giovanni Andreoli, e também do Coro Juvenil de Lisboa, dirigido por Nuno Margarido Lopes.
Seguem-se concertos com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana, a Orquestra Chinesa de Macau, entre outras. A programação está toda aqui e deixo apenas alguns destaques:
  • Poemas Sinfónicos (4 e 5 de Julho) - Entre outras obras, ouviremos Dom Quixote, de Richard Strauss, por Irene Lima, com a OSP e a direcção de Emil Tabakov.
  • Homenagem a Elisabete Matos (18 e 19 de Julho) - Cenas de Tosca e Turandot, com a participação de Elisabete Matos, Dora Rodrigues, Sergei Leiferkus, Paulo Ferreira, Marco Alves dos Santos, Coro do TNSC, Coro Juvenil de Lisboa e OSP. A direcção musical é de John Neschling.
  • Companhia Nacional de Bailado (25, 26 e 27 de Julho) - A encerrar o Festival, Orfeu e Eurídice, de Gluck, com a coreografia de Olga Roriz.
O Festival ao Largo conta este ano com o patrocínio do Millennium bcp e parcerias com os festivais de música de Sintra, do Estoril e de Alcobaça. O que ainda não se sabe é se o Millennium bcp continuará a apoiar o TNSC na próxima temporada.

22.6.14

Príncipe Real

Os Amigos do Príncipe Real chamam novamente a atenção para os riscos que correm o Jardim do Príncipe Real e o Reservatório da Patriarcal no caso de o projecto de construção do parque de estacionamernto subterrâneo seguir em frente. Foi lançada uma petição, que deve ser assinada aqui.


5.6.14

Sintra 2014

Foi hoje apresentado o programa do próximo Festival de Sintra, a decorrer de 20 de Junho a 11 de Julho em locais como o Centro Cultural Olga Cadaval, as Quintas da Piedade, do Ramalhão e da Penha Longa e o Palácio de Queluz.
O tema central é a Universalidade do Romantismo e o concerto inaugural, com a OSP dirigida por Álvaro Cassuto, é dedicado a Vianna da Motta. O Palácio de Queluz será o palco do encerramento do festival, com uma noite de música russa interpretada por Elisabete Matos, Sergei Leiferkus e Artur Pizarro. É pôr na agenda.

Consulte o sítio oficial do Festival.